quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Conversa de bar

Joyce era uma mulher de 30 e poucos anos que já passara por poucas e boas em relação ao sexo oposto - naturalmente, como toda mulher. Mas no caso específico de Joyce, havia um "agravante": não se encaixava no que definimos ser "um padrão de beleza"- em outras palavras: era feia. E também "levemente acima do peso","gostosa", "fofa" como ela mesmo dizia.
Vivia bem de vida e de bem COM a vida. Tinha um bom emprego, carro, casa...enfim.
Além disso, como pessoa era ótima: personalidade forte, determinada, extrovertida. Tinha muitos amigos, era super bem relacionada. E mais: Joyce tinha um incrível senso de humor. Com as experiências pelas quais passou, Joyce, ao contrário do que se espera, ao invés de ter se tornado uma pessoa amargurada, não, soube aprender com seus erros e com os dos outros e "rir da própria desgraça".
Certa vez, Joyce e suas amigas inseparáveis - bem à la Sex and the City - estavam tomando suas "margueritas" (apelido para cerveja, criado por Joyce), contando os babados da semana, em uma mesa de bar, quando Clara, uma de suas amigas, contou:"Amigas vocês já sabem né? Eu e o Ricardo terminamos...Tô sofrendo tanto! Ai ameeegas se não fossem vocês, não sei o que seria de mim!"
Beatriz, que era a mais "durona" do quarteto ( pura fachada!)
, não deu muita trela p/ que Clara dissera, uma vez que a achava "muito dramática" e "romântica demais".
Como que para mudar daquele assunto que Bia achava uó, contou as meninas que semana passada havia sido assaltada. Bia conseguiu o que queria: o rumo da conversa mudou completamente. Agora as três conversavam seriamente sobre a violência - menos Joyce, que estava aérea, como se nem tivesse ali...e, de repente, começou a gargalhar.
- Joyce, você tá bem? Indagou Mariana, a mais tímida das quatro.
- Deve estar bêbada, também depois de dez margueritas! Respondeu Bia.
- O que foi? Qual a graça disso tudo? Perguntou Clara.
Joyce começou a explicar a razão daquela espécie de espasmo que acara de ter: tinha feito uma comparação bizarra, mas até interessante. Então falou:
"Homens são igual a violência (todas a olham espantadas): se nós deixarmos nossas bolsas abertas, o perigo de ser assaltada no meio da rua se torna maior, assim como deixar o celular visível...enfim. Se deixarmos de comprar algo por medo de sermos assaltadas, nos sentimos presos, sem liberdade. Se ficarmos pensando na violêcia o tempo todo, piramos. Se deixarmos de pensar completamente, podemos ser pegas de surpresa."
Beatriz indaga:"e o que fazer então?"
Joyce, que passou por aquelas tais desilusões e decepções de maneira mais "intensa", digamos assim; que por muitas vezes se enganou, porque as pessoas só se aproximavam dela por ser rica e inteligente. Isso fez com que Joyce criasse uma espécie de sexto sentido, fazendo com que só se deixasse aproximarem dela pessoas de confiança, como suas amigas, ali à sua frente. E também, como sempre fora muito esperta e determinada (tudo que conseguiu na vida foi por puro mérito e dedicação; não por beleza e nem porque deu pro chefe) sabia exatamente a resposta:" o lance é ter o cuidado habitual com sua segurança, estar alerta, mas que isso não te impeça de você querer sair à noite, por medo; que você curta sua vida normalmente."
- Se houver um assalto, pois ninguém está livre disso, não procure ficar traumatizada, mais alerta, talvez, mas nunca diga "não saio mais de casa!" Até porque o assaltante, ou a quadrilha (dependendo do impacto da ação), pode invadir sua casa, roubar tudo o que você tem, e aí você vai ter que comprar tudo de novo. "Gente, não vai ser um ladrãozinho, que vem lá dos cafundó, que vai atrapalhar nossa vida!" As quatro caíram na gargalhada.
- Joyce, você não existe! Não é que se encaixa direitinho a sua comparação? Diz Mariana.
- Danada!! Exclama Bia.
Mas clara pergunta:" se mesmo tomando todas essas medidas, ainda há o risco real de sermos assaltadas em nossas própias casas, o que a gente faz?"
Joyce, mais uma vez responde sem pestanejar: - Entrega nas mãos de Deus, afinal foi Ele que criou o homem, e não é culpa Dele que alguns virem assaltantes. Do jeito que a violência anda, é quase impossível acreditar que ainda haja lugares seguros, mas eu sei que há. Ainda podemos ter uma vida em paz. Então, só Deus. Só Deus.

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