quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ambição


Diálogo entre Mary e Anne Boleyn.
"- Você está sempre apaixonada - Disse Ana com irritação. - Parece numa grande bola de manteiga, sempre gotejando amor por um ou por outro. Antes foi o rei e conseguimos nos dar bem. Agora é a filha dele, o que não vai nos adiantar nada. Mas você não liga. É sempre a mesma coisa: paixão, sentimento, desejo. Isso me deixa furiosa.
Sorri para ela.
- Porque você é só ambição - eu disse.
Seus olhos faiscaram.
- É claro. O que mais existe?
Henry Percy pairava entre nós, palpável como um fantasma.
- Não quer saber se o vi? - perguntei. Foi uma pergunta cruel e a fiz querendo ver dor em seus olhos, mas minha malícia não surtiu efeito. Sua expressão foi dura e fria, como se tivesse parado de chorar por ele e nunca mais fosse chorar por um homem.
- Não - replicou. - De modo que pode dizer-lhes que nunca mencionei seu nome. Ele desistiu, não desistiu? Casou-se com outra mulher.
- Achou que o tinha abandonado - protestei.
Olhou para longe.
- Se fosse um homem decente teria continuado a me amar - disse ela, a voz ríspida. - Se fosse o contrário, eu jamais teria me casado enquanto meu amante estivesse livre. Ele cedeu, deixou que eu partisse. Nunca o perdoarei. Está morto para mim. Posso estar morta para ele. Tudo o que quero é sair deste buraco e retornar à corte. Tudo o que me restou foi ambição."

Trecho do livro "A irmã de Ana Bolena", de Philipa Gregory.

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