segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A ira de Amélie

Paris, lundi, 31 Août 2009.

Não vou nem perder tempo colocando as frases em frânces como costumo fazer... Amélie escreveu-me uma carta furiosa. Não comigo, obviamente, mas com sua situação.
Eu a compreendo. Às vezes dá raiva mesmo. Não existe outro nome para o que ela sente hoje senão raiva.
Amélie, assim como toda jovem, passou por uma desilusão. O problema dela, a causa de sua ira é que está tentando de tudo pra contornar esse episódio e até agora não conseguiu de fato.
"Escrevo -te, minha amiga, esta carta para vomitar minha ira!!Isso mesmo, vomitar!!! Não aguento mais essa sensação, esse pensamento constante que me aflige e o que é pior : abala minha auto-estima e meu desempenho na vida!
Não aguento mais dormir e acordar com este único pensamento, este nome, esta face que me aparece e me aborrece como um fantasma todos as noites e me dá "bonjour" todas as manhãs!
Esta sensação que me suga, me deixa sem forças, sem vontade. Além de tê-la o tempo todo, o que já é extremamente desconfortável, é como se ela ainda cobrasse pedágio por eu senti-la e exaure todas minhas reservas.
Sinto-me impotente por não conseguir afastá-la. Por não conseguir controlar seus efeitos. Nem ao menos aprender a conviver com ela. Ao invés da resignação, me vem a revolta!
Meu desejo é ausentar-me de mim mesma e ser outra pessoa por algum tempo. Ah! Se pudéssemos fazer isso, como quando enjoávamos de um brinquedo e íamos brincar com outro.
Ah! Se eu pudesse! Seria "cette personne ", para saber como age intimamente. Como realmente é. O que pensa desta pobre "fille" que de tão desgostosa, prefere ficar às escuras e investigar-lhe a viver a própria vida.
Falam-me de tempo, mas confesso que não tenho paciência para esperá-lo. Talvez seja essa minha ansiedade desmedida que me faça ter essa sensação constantemente e, assim como uma bola de neve, vai me deixando cada vez mais irada.
A ira! Ela se mistura com essa "coisa" hora me fazendo chorar de angústia, hora de ódio.
A ira! Quereria eu ter o poder de me ausentar e desta vez me espiar, avaliar minha inocência, alertar contra minha própria tolice, censurar minha língua e colocar rédeas em meu coração!
Mas infelizmente, essa avaliação só acontece depois da desgraça, quando "aquela sensação" já se infiltrou em você e a faz pensar com rancor e frieza.
Que posso fazer, minha amiga? Se não tentar me conformar e pedir a Deus que não me faça uma pessoa medrosa? Só peço que quando encontrar ouro no chão, não pense que é "merde" e desvie!

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